Nakba. Aníbal Alves
Queira ler esta carta escrita pelo punho do tenente e solicito que abandone sua casa, sem levantar suspeitas, e sem bagagem. Traga somente o seu filho e tome um transporte até Bamblach. Lá lhe darei notícias do seu esposo.
Avistou Levy Cross sentado no café perto do cais fluvial e fez-lhe um sinal impercetível. Este levantou-se com descontração e caminhou em direção a um grupo de árvores, onde simulou despejar a bexiga e indagou:
— Então, tudo sobre carris?
— Sim, Cross, só estou à espera que ela apareça. E o transporte?
— Deixa amigo, está tudo combinado. O barqueiro vai acostar aqui esta noite, não há mirones à vista.
Depois de comunicar a mensagem, dirigiu-se ao cais, onde tinha montada a sua cana de pesca e aguardou.
Era já no lusco fusco, quando a Sr.ª Rena tomou das mãos de Abramowicz um bilhete que lhe indicava uma pensão ali perto, onde devia dizer que esperava o marido.
O barco afrouxou e guinou em direção ao molhe. O piloto e a mulher aceitaram a ajuda do pescador, que prendeu a espia que segurava o cabo do atraco e perguntou:
— Então mestre, tudo como combinado?
— Sim, amigo. Onde estão os passageiros?
Quase não necessitou de responder. Abramowicz, a Sr.ª Rena e o garoto já vinham a caminho.
Shira, ajudada por um garoto cigano que contratara, desmontava a tenda na feira semanal de Basel, enquanto o camião GMC conduzido por Gilad estacionou para carregar a banca e as poucas sobras da mercadoria não vendida, oriunda de pequenos agricultores alemães da fronteira com a Suíça. Se beijaram e o cigano perguntou:
— Então, que tal correu o mercado?
Ela sorriu e confirmou:
— Sim, foi muito rentável!
Ao dizer isto, estendeu-lhe um volumoso maço de francos suíços.
Desde que o cigano convencera Abner Abramowicz a investir o seu dinheiro no seu jeito para o negócio enquanto terminava os seus estudos de medicina na Universidade de Zurique, via o seu investimento em crescentes dividendos. Por intermédio de Levy Cross, que se empregara como intérprete na Cruz Vermelha para fazer a ligação desta organização com as forças do exército americano na Alemanha, tinha conseguido a venda de dois camiões GMC para Gilad ampliar o raio de manobra para o seu comércio de bens alimentares, tão procurados depois da guerra. Foi também por intermédio de Cross e com a conivência da Sr.ª Golda que Gilad conseguiu um carregamento de latas de conserva de atum, proveniente de países nórdicos e destinados à Cruz Vermelha.
Também a amiga Debra Luski conseguiu uma bolsa de estudo para uma universidade americana, por intermédio do Centro Judeu, que a empenhou na promessa de regressar a Israel depois de formada, como professora de história antiga. Por intermédio de Abner e Cross, o casal de ciganos identificou-se como cidadãos judeus e até alterarou a sigla numérica marcada em seus braços no campo de Birkenau. O dinheiro voltara a comprar tudo, inclusive no Centro Judaico de Zurich, onde Gilad e Shira assinaram as suas declarações como testemunhas do gaseamento de judeus nos campos da morte de Auschwitz e abalizaram tudo o que lhes foi pedido, assim como a candidatura para emigrarem para a Palestina. Para o Centro Sionista, interessava o testemunho do maior número possível de pessoas. A sua origem era secundária e até aceitavam os testemunhos daqueles, judeus ou não, que nunca tinham estado em qualquer campo nazi. O apoio russo ao holocausto fictício dos 6 milhões começara a conquistar a simpatia e a repulsa dos povos do mundo e os americanos também tinham já mostrado a sua disposição para se aliarem ao repúdio do holocausto.
Em 27 de novembro de 1947, as Nações Unidas, subjugadas ao poder dos Estados Unidos da América, à corrupção do brasileiro Osvaldo Aranha, que presidia à Assembleia e ao poder do capital sionista, aprovaram no seu seio uma criação chamada Israel. Sabe-se hoje da indigna corrupção de alguns membros que votaram a favor da Resolução 181:
O embaixador da Costa Rica recebeu um livro de cheques em branco e as mulheres dos diplomatas dos países latino-americanos, incluindo o Brasil, ganharam casacos de vison. O voto do Haiti foi trocado por créditos bancários, assim como o da Libéria. O presidente das Filipinas foi ameaçado de morte para mudar o seu voto. A desonesta Assembleia das Nações Unidas, presidida pelo corrupto Osvaldo Aranha, desrespeitou todas as normas do Direito Internacional e afrontou a Carta das Nações. É assim que a trama judaica sionista oficializada por corruptos continua a massacrar os desgraçados povos da Palestina, verdadeiros naturais daquelas terras, que o maldito dinheiro dos Rothschild** não comprou.
Foi também como apoio de Cross que os pais de Shira e o pai de Gilad se puderam deslocar à Suíça para abençoar o casamento de seus filhos. Eles viajaram num veículo da Cruz Vermelha e puderam, assim, atravessar fronteiras tornadas intransponíveis pelas ditaduras impostas pelo poder soviético.
Foi com enorme surpresa e comoção que Shira e Gilad abraçaram seus pais e como o dinheiro de Abner era fértil um numeroso grupo de ciganos ali estabelecidos ergueu uma enorme tenda para festejar o consórcio matrimonial no rito romani, marcado para o dia seguinte.
A cerimónia começou com a pronúncia do ancião da tribo local em substituição do original. Este, revestido com o acordo dos pais dos noivos, começou por recitar as orações do ritual com a atenção e o sentido silêncio dos presentes. Levantou a mão e chamou à sua presença os noivos: uniu as suas mãos e deu um pequeno golpe no pulso de cada um, pôs ambos em contato para juntar os sangues dos dois pelo juramento sagrado e os convidados, num brado uníssimo, gritaram: «Brau!!!» De seguida, o pai da noiva aproximou-se do ancião e iniciou a declaração dirigida ao pai do noivo, em língua romani:
— Eu te dei a minha filha em casamento, mas um dia posso pegá-la de novo. Se cuidares dela, terás nora. Não é dinheiro nem ouro que te dou, mas sim um sangue meu.
Os convidados aplaudiram e, quando o pai do rapaz beija a noiva, o ancião da cerimónia fala nesse momento:
— Eu testemunho que estou presente neste casamento e mais tarde posso ver o final dele.
O idoso dirige-se ao pai da noiva e, em voz alta, proclama, para que todos oiçam:
— A tua filha está paga!
Em seguida, beijou os cônjuges. Os convidados aplaudiram ruidosamente e gritaram: «Brau!!! Eles estão casados.» Começa então a grande festa que durará três dias e três noites de farra, música, dança, cantares romanis e muita e muita comida. Uma das letras que nunca faltaria nesta cerimónia e é constantemente repetida é a seguinte: «Não queremos mulheres não ciganas!» No terceiro dia após a cerimónia, é feita uma pausa nos festejos — os convidados querem ver o resultado do desvirginamento, que é executado por uma tia. A mulher introduz o dedo na vagina da noiva, com o objetivo de rasgar o hímen e provocar o sangramento. Passou um pano imaculado nos bordos do genital para o manchar com o sangue derramado e mostra-o a todos os convidados. Esta é a prova da pureza da moça, que é dada ao marido. Uma gargalhada de Debra Luski chama a atenção de Gilad e este, surpreendido pela atitude da amiga, vê esta a aproximar-se de si e sussurrar-lhe no ouvido:
— Porquê? Como conseguiste preservar a honra dela e como resististe à tentação?
Gilad soltou uma gargalhada e murmurou-lhe:
— Minha querida, para uma cigana, a virgindade é algo de muito sagrado. Ela jamais permitiria que eu ofendesse a sua dignidade. Sempre soube satisfazer o meu amor e o meu desejo por ela!
Foi com uma expressão de alívio que tanto Gilad como Shira se desembaraçaram dos convidados e tomaram um táxi para regressar a casa. Estavam cansados de mais para continuar o folguedo, só que Shira não contou com a surpresa que lhe tinha reservado Debra: esta lhe abriu a cama e lhe mostrou um vestido de noite lindíssimo, como uma manifestação da sua amizade:
— Querida, sei que estás cansada de tanta festa e falta de privacidade. Este é o vestido que nós te oferecemos para comemorares em grande a vossa