Reis Do Economato. Nuno Silverio

Reis Do Economato - Nuno Silverio


Скачать книгу
que conhece sobre o hotel?”

      “O que sabe sobre o Economato?”

      “O que pode oferecer ao Hotel?”

      No dia anterior falou com as irmãs e pediu alguns conselhos. Com persistência, ambas tinham arranjado emprego nas suas áreas de formação; Rita designer gráfica e Sílvia na área contabilística. Elas sempre lhe haviam dito para não desistir e não ir trabalhar para fora da sua área de formação de forma a não dispersar e dificultar as suas possibilidades de fazer carreira.

      Deitou-se cedo e colocou o despertador para as 7h para chegar a tempo. Não sabia onde era o hotel e queria precaver todos os imprevistos:

      “Não há segundas oportunidades para primeiras impressões” – pensou.

      No dia seguinte, chegou antes da hora marcada e não anunciou de imediato a sua presença preferindo ir dar uma volta para conhecer um pouco melhor a envolvente do hotel. Contornou o edifício algo antigo e reparou num camião parado nas traseiras; várias mercadorias estavam colocadas no chão junto a uma portinhola preta, não muito larga, e a seu lado o motorista olhava para o relógio de pulso com ar impaciente enquanto abanava a cabeça.

      – Bom dia – disse Luís.

      – Bom dia... – hesitou o motorista. – Era um bom dia se não tivesse de estar aqui à espera mas, neste cliente, desde que foi embora o rapaz que estava no armazém, tem sido sempre assim. Nunca há ninguém para nos atender e o tempo a passar, e eu com o camião carregado e tanto trabalho – resmungou.

      – Pois, acredito que é complicado. Um bom serviço – despediu-se Luís.

      “Bem, deve ser isto que me espera” – pensou Luís.

      Cinco minutos antes da hora marcada apresentou-se na Recepção e identificou-se. Pediram-lhe que aguardasse nos sofás do hall de entrada, um espaço de decoração simples, mas de cores claras e aspecto agradável. Tinha o bar ao fundo e algumas plantas em elegantes vasos junto à porta e à janela que dava para a Avenida. Observava o movimento de clientes a descer por uma escada ou pelo elevador ao lado da Recepção e a entrar por uma porta que lhe pareceu ser do restaurante:

      “Belo Repasto” – lia-se.

      Reparou especialmente em três jovens com ar de estudantes que entraram pela porta principal e passaram descontraídos directamente ao restaurante. Alguns clientes saíam do restaurante e dirigiam-se ao bar, pediam um café e sentavam-se a ler o jornal da manhã ou a falar da partida de futebol da noite anterior com o Barman. Luis, observando a envolvente, nem se apercebeu a chegada duma senhora de meia idade, óculos na ponta do nariz e vestido cinza. A senhora sorriu e identificou-se como Teresa de Lencastre, era quem lhe havia ligado para realizar a entrevista. Ela reparou de imediato que Luís estava um pouco curvado para a frente e não parecia muito descontraído.

      – Deu bem com o hotel? Vem mesmo de onde o Luís? – perguntou, procurando pô-lo mais à-vontade.

      Luís falara um pouco sobre si e sobre a cidade onde havia crescido e vivido a maior parte do tempo, com excepção dos tempos na Universidade.

      – Ainda é um pouco longe, mas o Luis decerto está habituado a conduzir na cidade?

      Luis continuou a falar sobre si e estava cada vez mais à-vontade. Foram para uma pequena sala: parecia uma sala de reuniões, talvez levasse no máximo 20 pessoas. Dona Teresa iniciou a entrevista e Luís ia respondendo às suas perguntas sem se alongar muito. Aos poucos a tensão inicial foi-se dissipando e começou a sentir-se mais descontraído.

      – Onde se vê daqui a dez anos? – esta Luís estava preparado para responder, via-se a gerir um hotel ainda que de pequena dimensão.

      Nisto, a normalidade da entrevista foi interrompida pelo vibrar persistente do telemóvel de Dona Teresa:

      – Desculpe, Luís, tenho de ver o que se passa – D. Teresa atendeu: “– Ainda estou em entrevista. O que se passa tão urgente? O quê? Vou já aí!” – reclamou saindo.

      Abandonou a sala prometendo ser breve e passado poucos segundos ouviu vozes na sala ao lado e reconheceu a de Dona Teresa:

      “– Então expliquem-me lá o que se passou?” – Luís em seguida ouviu um murmúrio não conseguindo discernir o que era dito.

      “– Que isto não volte a acontecer ou teremos de tomar medidas mais graves, considerem-se avisados” – reclamou Dona Teresa.

      “Ui, alguém fez porcaria!” – pensou Luís.

      Passado isto, Dona Teresa regressou, voltando a pedir desculpa e começou a contar o sucedido. Pelos vistos, um pequeno grupo de jovens estudantes de uma Universidade próxima estava a tomar o pequeno-almoço alegando estarem hospedados no hotel. Era o risco de terem uma equipa pequena e não terem ninguém à entrada da Sala a controlar as entradas.

      – Eles tinham atitude: quando lhes perguntaram se estavam hospedados disseram que sim e dispararam um número aleatório. Só a confirmação com a Recepção apurou a verdade! Não admira que a última vez que o fizeram ninguém tenha reparado. Gabo-lhes a coragem – Dona Teresa sorria no meio do infortúnio. Admirava o espírito rebelde dos jovens e tinha sido isso que a tinha levado a chamar Luís para entrevista apesar de não ter qualquer experiência em Economato..

      Dona Teresa perguntou-lhe que contacto tinha tido com o Economato ao que ele respondeu que apenas durante o estágio de Restaurante em que era o sacrificado por ir ao armazém buscar as grades de água. Haviam colegas que o chamavam o “rapaz das águas” em tom de brincadeira.

      Dona Teresa explicou-lhe quais seriam as suas funções:

      – Assegurar todas as compras conforme as listagens enviadas pelo Chef de Cozinha, pelo Responsável da Sala, pela Governanta e pelo Chefe de Recepção. As compras de Manutenção, regra geral, são feitas pelo Responsável na drogaria e lojas de material eléctrico das redondezas;

      – Gerir o stock de Economato não deixando acabar nenhum produto;

      – Lançar as facturas no sistema informático;

      – No final do mês, fazer o inventário de todas as secções e apresentar o mapa com o resumo de consumos.

      Explicou ainda que o objectivo, no início, era arrumar o espaço, mantendo os fornecedores habituais sem se preocupar muito com os preços. Mais adiante, quando tudo estivesse organizado passariam para a negociação e se necessário mudariam alguns fornecedores.

      Explicou ainda o que Luís iria encontrar: O antigo ecónomo, um rapaz um pouco mais velho do que ele, tinha tido uma proposta aliciante para um Hotel de categoria superior e forçado a saída sem dar o devido tempo à casa. Tinham colocado anúncio para ecónomo, mas os poucos candidatos estavam acima do orçamento. Como o Luís estava disponível para entrada imediata, Dona Teresa propôs começar no dia seguinte. Havia que recuperar o perto de três semanas sem ecónomo.

      Luís não estava muito confiante na proposta que lhe acabava de ser feita, porém dois meses a enviar curriculos sem respostas ou propostas concretas estavam a deixá-lo frustrado e, ao fim ao cabo, o importante era começar por algum lado. Colocou o seu sorriso mais confiante e respondeu:

      – Sim – apertando a mão a Dona Teresa e agradecendo a oportunidade.

      Dona Teresa exclamou sorrindo com aquele ar tranquilizador que só ela tinha:

      – O que gosto mesmo é de descobrir jovens talentos e acredito que o Luís seja mais um!

      Luis despediu-se e foi para casa a pensar na etapa que iniciaria no dia seguinte. Luís era invadido por um sentimento agridoce. Tinha conseguido trabalho, ainda por cima no ramo hoteleiro que era o que desejava, no entanto, aquela história do Economato deixava-o desconfortável. O desconhecimento do que o esperava deixava-o ansioso e sentia-se inseguro, tinha medo. A confiança resulta de ter coragem para avançar rumo ao desconhecido e isso faltava a Luís.

      O


Скачать книгу